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Importunação Sexual e Transfobia: diálogos necessários numa sociedade pós-bolsonarismo

Atualizado: 29 de mar. de 2023

Por Marcello Chamusca


Nos últimos dias, o tema da importunação sexual foi amplamente discutido em todo o país. A luta pelo respeito ao corpo e à integridade das mulheres, entretanto, não é uma novidade, mas ganha cada vez mais força na sociedade.


O movimento "Não é não", por exemplo, é uma das iniciativas que vem ganhando destaque. A campanha tem como objetivo conscientizar sobre o direito das mulheres de dizer "não" a qualquer tipo de contato físico sem o seu consentimento.


A polêmica envolvendo a expulsão de dois participantes do BBB, após acusações de importunação sexual, também gerou muita discussão nas redes sociais e nos meios de comunicação. Os brothers MC Guimê e Cara de Sapato "passaram dos limites" com uma convidada mexicana que se juntou ao grupo. A atitude da produção do programa foi vista como um avanço na luta contra o assédio e a violência sexual.


É preciso observar, entretanto, que a luta pela igualdade de gênero não se resume apenas à questão da importunação sexual. É preciso falar sobre o empoderamento feminino e a valorização das mulheres na sociedade e vários temas paralelos que são preciso adentrar para permitir um avanço real nessa luta.


Segundo Djamila Ribeiro, filósofa e ativista feminista, "o empoderamento feminino é uma luta diária para conquistar espaços que sempre nos foram negados". Ainda há muito a ser feito para que as mulheres tenham os mesmos direitos e oportunidades que os homens.

Nesse sentido, a filósofa Simone de Beauvoir nos lembrou que "ninguém nasce mulher: torna-se mulher". Ou seja, a construção do papel feminino na sociedade é algo que é imposto desde a infância e precisa ser desconstruído para que as mulheres possam ser livres para ser quem elas são.


Infelizmente, a violência contra as mulheres ainda é uma realidade em nosso país. O feminicídio, ou seja, o assassinato de mulheres por questões de gênero, é uma das formas mais extremas de misoginia e machismo. Dados oficiais dão conta de que morrem pelo menos 4 mulheres por dia somente pelo fato dela ser mulher. As mulheres trans também são vítimas. Mais de 130 mulheres trans foram mortas em 2022, sem nenhum outro motivo aparente, somente por serem mulheres trans.


É preocupante ver que, em pleno século XXI, ainda há pessoas que se identificam com o bolsonarismo e suas ideias machistas e retrógradas. É necessário que a sociedade esteja alerta e atuante na luta contra qualquer tipo de preconceito e discriminação. Nos últimos dias também, inclusive, a transfobia feminina foi evidenciada em pleno Congresso Nacional. Como não poderia deixar de ser (tinha que ser, claro), foi um deputado bolsonarista, Nikolas Ferreira (PSL-MG) (ou chupetinha, como é conhecido na Internet), quem protagonizou um dos episódios mais lamentáveis de desrespeito às mulheres trans de que se tem notícia em ambientes oficiais, em pleno 8 de março, Dia Internacional da Mulher.


O deputado proferiu uma série de comentários preconceituosos e desrespeitosos contra a deputada trans Erika Hilton (PSOL-SP), que se manifestou sobre a importância da inclusão das mulheres trans. Nikolas Chupetinha questionou a legitimidade de Erika Hilton para falar sobre o assunto, alegando que ela "não sabe o que é ser uma mulher". Além disso, ele ainda fez referência ao gênero de Erika Hilton de forma equivocada, demonstrando total ignorância sobre o tema.


O comportamento do deputado bolsonarista Nikolas Chupetinha é um triste reflexo da falta de respeito à mulher que ainda é presente na nossa sociedade e certamente pode ser configurado como quebra de decoro parlamentar. É inadmissível que um representante eleito pelo povo se sinta no direito de desrespeitar e diminuir uma colega de trabalho apenas por sua identidade de gênero. Chupetinha precisa ser cassado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.


Em resumo, a importunação sexual, e os preconceitos que giram em torno das mulheres, são apenas algumas das muitas facetas da luta das mulheres no nosso país, a transfobia bolsonarista deixa isso totalmente transparente.


Por isso é preciso sensibilizar a sociedade sobre a importância de respeitar o corpo e a integridade das mulheres, sis ou trans, valorizar o empoderamento feminino e combater a misoginia e o machismo em todas as suas formas.




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